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25 de Abril de 2024

Belga pede autorização para eutanásia por não aceitar a própria sexualidade

Um homem gay belga quer receber autorização legal para morrer. Para isso, argumenta que sofre psicologicamente por não conseguir aceitar sua sexualidade.

Publicado por Caio Rivas
há 8 anos

Identificado apenas como Sébastien, ele diz já ter pensado cuidadosamente sobre o momento em que sua vida chegará ao fim.

“No momento em que puserem o soro em minhas veias, para mim será apenas um tipo de anestesia”, afirmou o belga, de 39 anos, ao programa Victoria Derbyshire, da BBC.

A eutanásia é legal na Bélgica desde 2002. No ano mais recente em termos estatísticos, 2013, houve 1.807 casos no país, a maioria deles de pessoas idosas sofrendo de doenças terminais - apenas 4% tinham distúrbios psiquiátricos.

Sébastien diz ter feito terapia durante 17 anos, além de tomar remédios, e acreditar não ter outra opção. Ele afirma sentir atração por homens jovens e adolescentes e ter traumas de infância.

“Minha mãe tinha demência, então eu também não estava bem mentalmente. Sentia-me absurdamente solitário, introvertido e inibido. Tinha medo o tempo todo”, contou.

“Tinha 15 anos quando me apaixonei por um rapaz. Mas era insuportável para mim, porque eu não queria ser gay.”

A lei belga estabelece que, para ter direito à eutanásia, os pacientes precisam demonstrar constante e insuportável sofrimento psicológico ou físico.

Nos casos de transtornos psicológicos, três médicos precisam concordar que pôr fim à vida do paciente, caso essa seja sua vontade, é a melhor opção. Mas Sébastien está determinado a buscar a autorização.

“Sempre pensei na morte. O que sinto é um sofrimento permanente, é como estar aprisionado em meu próprio corpo”, explicou.

“É uma constante sensação de vergonha, uma sensação de cansaço de estar atraído por quem você não deveria. É como se tudo fosse ao contrário do eu que gostaria.”

Há imenso apoio público à eutanásia na Bélgica. O número total de casos aprovados tem crescido anualmente desde 2002 - dois anos atrás, a lei foi alterada para permitir a prática inclusive para crianças em estado terminal.

Mas especialistas debatem se isso deveria se aplicar a pessoas que são mentalmente frágeis.

Caroline Depuydt, psicóloga que trabalha no hospital psiquiátrico Clinique Fond’Roy, em Bruxelas, diz que prefere encorajar pacientes a buscar tratamento.

“Sempre temos algo que pode funcionar. Tempo, remédios, psicoterapia - algo que precisamos tentar e perseverar. O psiquiatra sempre precisa dar esperanças ao paciente de que as coisas não terminaram”, afirmou ela.

“É uma lei difícil, que envolve questões filosóficas e éticas. Não há uma única resposta.”

Todas as mortes na Bélgica são revistas por um comitê de médicos e advogados. Para Gilles Genicot, professor de legislação médica da Universidade de Liége e membro do comitê que revê os casos de eutanásia, o caso de Sébastian não preenche o critério legal para a prática.

“É bem mais provável que ele tenha problemas psicológicos relacionados à sua sexualidade. Não consegui encontrar um traço de alguma doença mental nele. Mas o que você não pode fazer é simplesmente desconsiderar a opção de eutanásia para pacientes”, afirmou.

“Esses pacientes podem entrar no espectro da lei se todos os tratamentos prescritos pelos médicos falharem e três médicos concluírem que não há mais opções.”

À espera de análise

O pedido de Sébastien foi aceito inicialmente - ele precisa passar por mais exames para que seja determinado se a lei se aplica ao seu caso.

O homem mostra ceticismo ao ser questionado sobre a possibilidade de desistir da eutanásia.

“Se alguém me desse uma cura milagrosa, por que não? No momento, porém, eu não acredito mais. Estou cansado.”

Apesar de estar calmo a respeito da decisão de morrer, ele admite que isso afetará as pessoas à sua volta.

“O maior problema será contar para minha família. Se eu receber um sim (a autorização para morrer), esse será o maior problema.”


Fonte: Jonathan Blake da BBC

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